quarta-feira, 19 de maio de 2010

Perplexidade & Acomodamento


Vemos, com perplexidade, o fato de que, depois de cinqüenta anos de crescimento, mesmo a essas taxas ridículas dos últimos anos, a desigualdade continua, a pobreza não é reduzida. Ouvimos o Governo dizer que tirou da pobreza certa quantidade de pessoas? milhões, como dizem?, porque elas passaram a ganhar trinta reais a mais por mês, valor que não se paga a um restaurante. As pessoas saíram da linha da pobreza financeira, porque o cálculo é artificial: um dólar por dia, dois reais por dia.
Mas, do ponto de vista da qualidade de vida, não houve gente saindo dessa classificação. Pelo contrário, aumentou o número de pessoas na linha de pobreza, A linha de pobreza não é medida pela renda, mas com esse artificial valor de dois reais por dia, o qual não pode definir se a pessoa está na pobreza ou não. Se a linha da pobreza for medida pela qualidade de vida, a situação piorou, aumentou o número de pobres: aqueles que não podem andar na rua com medo da violência, aqueles que não sabem se amanhã terão ou não um emprego, aqueles que não sabem se vão tomar um ônibus, um avião ou não, porque sabemos da irregularidade com que as coisas funcionam neste País.
Por isso, creio que devíamos, um dia, fazer uma reflexão: por que há tantos problemas para os quais não conseguimos encontrar saída? Isso, volto a insistir, está em duas palavras: perplexidade, por uma falta de rumos que não conseguimos definir; e acomodamento, porque não conseguimos mobilizar as pessoas contra a corrupção.
Já fizemos tanto pela anistia; por que não fazemos uma conferêrencia substancial contra a corrupção, contra a impunidade, contra a desigualdade, contra os apagões? Há um acomodamento e uma perplexidade. E o mais grave é que tanto a perplexidade chegou aos jovens a partir da nossa própria perplexidade, como o acomodamento deles chegou a nós, porque eles é que deveriam mobilizar-se.
Aproveito, portanto, esses minutos em que falo pelo Jovens para manifestar preocupação não só com os apagões, mas com a perplexidade e o acomodamento.

Aelson Barros

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